Atenção! Estes são devaneios de consciência que a depressão e o pessimismo costumam produzir para sugar nossas energias e nos induzir a agir de forma irresponsável e perigosa!
Eis que estamos sentindo aquela angústia de quem perde um ente querido. Sentimos a dor da impotência tomando nosso corpo quando tentamos inutilmente reverter uma situação adversa. O ar parece insuficiente para encher nossos pulmões enquanto as paredes parecem tentar juntarem-se umas às outras na tentativa de nos esmagar. Sufocamos a espera de uma morte que parece estar sempre atrasada para nos libertar. Nossa mente nos trai e o que vemos não é real. Sequer sabemos exatamente o que vemos. Estamos expostos a própria sorte que é a cada dia mais falha e traiçoeira. Passamos a ouvir nossas músicas favoritas, remexendo em nossas lembranças tão distantes em busca de algum prazer que justifique uma existência tão dolorosa. Tentamos estreitar nossas poucas amizades para amenizar nossa desgraça. Buscamos desesperadamente conquistar mais algumas para que compartilhem de nossa dor. Damos um valor demasiado às coisas quase sem importância para que nossos dias de agonia façam algum sentido. Tentamos disfarçar nossas vidas desgraçadas com belas e sedutoras fantasias que nos servem por pouco tempo.
Agora nossas vidas estão bizarras. Somos as figuras personificadas de uma espécie à beira da extinção. Adquirimos uma cultura invulgar que nos levou a enxergar nossa própria futilidade. Onde está o diabo com uma sedutora proposta por nossa alma? Onde está Deus para aliviar nosso sofrimento? Acreditar em coisas que não existem nunca enganará nossos sentimentos, mesmo nos piores momentos. A nossa falta de fé é tão racional que passamos a ter a convicção de que a felicidade é mera tolice de um coração embriagado e de uma mente carente. Apreciamos a arte porque sabemos que todos os artistas são seres infelizes como nós. Criamos nossas obras tentando compensar a falta de beleza que há no mundo, mas fracassamos.
Agora que sabemos um pouco sobre a nossa doença, o que resta? Haverá um belo fim para nosso drama? Será que tirar a própria vida não seria uma maneira de acabar com este sofrimento? De ter algum controle? Nossas breves paixões nada valem se comparadas ao intenso desejo de que toda essa angústia acabe. Como podemos ser tão brilhantes potencialmente e conviver com o sorriso falso e os feitos dos mais medíocres? Será que esta é a sublimação do intelecto? Compreender um mundo que só nos faz querer destruí-lo? Vamos entediar nossos amigos com nossas lamentações para que tenham pena de nós. Fodam-se eles com seus sorrisos cínicos e com sua falsa solidariedade, pois é notória a hipocrisia em suas ações! Parem de abusar da hospitalidade de nossas casas e roubar nosso tempo. Quando falam bem de nós é porque realmente não nos conhecem ou são bajuladores. Toleram nossa companhia porque não suportam a solidão.
Mas nós trabalhamos. Sim, nos prostituímos por alguns trocados para manter nossas vidas sem sentido, enquanto quem pouco faz é que enriquece. Procriamos para eternizar nossa raça maldita e manter nossas lamúrias de geração em geração. Criamos leis para que possamos burlá-las e demonstrar nossa falta de ética, nosso caráter corruptível. Que belos animais nós somos, destruímos nosso habitat para mostrar o quanto somos evoluídos. Extinguimos outras espécies uma a uma porque somos a raça superior. Como estamos orgulhosos de nossa tecnologia inútil. Como somos criativos em construir bens indispensáveis que não servem para nada. E a beleza que cultuamos, tão passageira que não nos traz bem algum, só desperta a inveja e a cobiça.
O que somos? Um bando de egoístas que sonham com fortuna? Não. Somos bem menos que isso. Somos um vírus que suga a terra até ela estar morta e sem utilidade. Não há nada de honesto no ser humano a não ser sua própria futilidade. Dizemos coisas belas para obtermos os prazeres mais sórdidos. Usamos roupas elegantes para encobrir nossa essência bizarra. Não será essa consciência a mãe de todo o sofrimento? Não será a culpa o único sentimento honesto que podemos sentir?
Vamos admitir que não haja salvação para nossas almas porque elas simplesmente não existem. Vamos acreditar que não há perdão para nossos crimes, afinal, não passam de meras formalidades criadas por nós mesmos. Vamos parar de implorar pela redenção de nossos pecados, eles são simples exposições de uma existência doentia de nossa origem animal. Vivemos pelas leis que nós mesmos criamos. Temos fé nas crenças que inventamos para justificar qualquer esperança. Nossas paixões, patéticas e irracionais, luxúria, não passam disso, na melhor das hipóteses é o medo da solidão que nos atrai em nossos semelhantes. A família? Bela justificativa para aturar pessoas tediosas que só nos trazem problemas.
Mas ainda há o que ser feito. Sim. Ainda há muito que roubar, muitas pessoas para enganar, diversas coisas para destruir. Vamos pôr um sorriso no rosto e sair por aí sendo nós mesmos. Nossa missão ainda não está completa. Existe beleza a ser corrompida. Têm muita mentira a ser dita e muitos anos de demência pela frente. Ainda não conseguimos nos humilhar e destruir completamente. Mãos à obra. Amanhã será mais um dia.
*Este texto foi escrito para o blog heavinna.blogspot.com e foi postado inicialmente em 25 de outubro de 2011. A versão em áudio pode ser conferida no Youtube através do link abaixo:
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