Um dos temas mais explorados por escritores e cineastas do entretenimento tem alguma relação com fantasmas. Normalmente, a aparição metafísica se refere à alma de alguém que morrera em condições sinistras ou tenha levado uma vida um tanto quanto exótica. Assim foram feitas inúmeras histórias de ficção que pulularam a imaginação de gerações. Mas uma existência pós-morte é tão presente no imaginário popular que dificilmente se encontra uma pessoa que não tenha algum tipo de crença relacionada a imortalidade da alma, espíritos, reencarnação, fantasmas, céu, inferno e outras vertentes. É estranho pensar na possibilidade de não haver nada após a morte, já que sabemos que este fim é inevitável para todos os seres vivos. Assim também é ao imaginar um mundo em que não existimos, por mais que exista evidências palpáveis dessa realidade na qual nós não estamos inseridos, a não-existência é uma ideia perturbadora.
Mas não quero abordar aspectos artísticos, religiosos ou folclóricos neste texto. Em dois momentos anteriores, eu falei de uma experiência marcante na infância e dei continuidade escrevendo sobre viver uma vida burocrática, imposta pelo meio cultural, ou seja, em preto e branco. Encerrei essa trilogia fazendo conjecturas a respeito de uma realidade alternativa ao trivial que poderia ser possível. E é neste cenário existencial que encontrei uma espécie de fantasma muito poderosa que me assombrou por anos: a depressão. Ela foi se aproximando sorrateiramente, sussurrando coisas bobas nos meus ouvidos quando eu estava só, diminuindo o valor de uma coisinha à toa aqui, outra ali, até que a maioria das atividades que costumava praticar perdessem totalmente seu valor. A cada ideia que este fantasma sugeria e que era aceita por mim, parte de minha energia se dissipava de alguma forma. Quando tinha ficado apenas com minha rotina básica: trabalhar, me alimentar e dormir, ela me mostrou o local de onde viera e eu conheci a ansiedade. Isso atrapalhou no trabalho, prejudicou minha alimentação e meu sono, ou seja, estava me destruindo.
Grosso modo, a depressão é a condição de ficar sem energia porque parece que não há nada que valha à pena fazer. Há perda de motivação, desesperança e tudo parece conspirar para a estagnação. Mas não é apenas isso. Como nossa natureza é pré-disposta a evoluir, estar em movimento, as pendências e as atividades que precisamos exercer como trabalhar, fazer compras, interagir socialmente, nos deixam ansiosos e causam sofrimento. Este sentimento faz com que nosso corpo fique estressado e produza substâncias descontroladamente que acabam nos prejudicando. Não foram poucas as vezes em que senti meu coração disparar, faltar o ar e a vista enegrecer em uma crise de ansiedade gerada pela depressão. Nas primeiras vezes, quando acometido destes surtos, cheguei a ver fantasmas, acreditei que estava infartando ou tendo algum tipo de bloqueio pulmonar que me tirava o fôlego. O pior é constatar através de exames laboratoriais que essas coisas realmente estavam acontecendo.
Tomei a decisão óbvia: busquei auxílio médico. Como de praxe, me receitaram antiansioliticos e calmantes, além de terapias complementares. Por um tempo, eu me sujeitei a isso e fiz um tratamento completo. Porém, como a medicação por vezes agravava meus problemas em relacionados a manter o foco, minha fala, meu raciocínio e meus movimentos ficaram defasados. Parecia que era este o preço a ser pago por alguma coisa que eu não sei exatamente o que era, afinal, como ouvi de muita gente: “Todo mundo precisa tomar um remedinho depois de um tempo”. Por alguns anos eu aceitei essa realidade. Porém, em um belo dia, ao caminhar cerca de 4 quilômetros até o consultório para me consultar e ver meu médico, que era mais jovem e estava em péssimas condições físicas, chegar esbaforido por subir dois lances de escada, eu me questionei se era aquela figura decadente que me guiaria para fora daquele inferno.
A partir de então, aos poucos, mesmo a contragosto, fui adicionando atividades físicas ao meu cotidiano, melhorei minha alimentação, passei a seguir pessoas nas redes sociais, que jamais pensei que me chamariam a atenção, e ao terminar o último ciclo de medicações, as crises haviam diminuído de frequência, eu já dormia melhor, tinha mais energia, conseguia trabalhar, ler, tocar e raciocinar de forma normal, até melhor do que na juventude. Alguns podem sugerir que o tratamento deu certo e eu estava curado, mas a resposta mais realista é bem simples. Como eu havia passado por momentos em que tive perdas de entes importantes da minha família e já tinha me acomodado com a rotina que tinha, aceitando aquele estilo de vida de casa para o escritório e vice-versa, não praticava mais esportes, dormia pouco, me alimentava mal, e principalmente, tinha abandonado meus sonhos, acabei por preparar um terreno fértil para que sementes tão danosas germinassem, brotassem e começassem a dar os primeiros frutos.
Olhando em retrospectiva, gradualmente, conforme fui envelhecendo, fui abandonando atividades que fazia frequentemente na juventude como praticar esportes, sair com meus amigos, dedicar tempo e dinheiro aos meus projetos musicais e, principalmente, acreditar cegamente que uma existência melhor era possível. Lá por vinte e tantos anos, quando os primeiros problemas de saúde começaram a aparecer, já tinha vivido algumas decepções, alguns fracassos, e tinha chegado a um ponto onde poderia relaxar e me acomodar, baixei a guarda para que algum dos fantasmas que me cercavam pudesse me atingir. Grande parte das sensações agonizantes sofridas por vítimas nos filmes eu pude sentir de alguma forma, talvez em menor intensidade. É preciso manter a luz interna sempre acesa para iluminar o caminho, pois as sombras de fora estão sempre à espreita ansiosas por uma oportunidade.
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