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Não quebre o julgamento

não quebre o juramento

Por volta de 1994, eu então com 16 anos, ao entrar em uma loja de discos usados que estava sendo inaugurada naquele dia, me deparei com um LP com um demônio em meio ao fogo na capa com o dedo indicador apontando para mim, o título do álbum? Don’t Break The Oath (não quebre o juramento). A banda? Mercyful Fate. Já tinha lido sobre este grupo dinamarquês liderado pelo espalhafatoso King Diamond, que havia feito algum sucesso na primeira metade da década de 1980 e que voltara a ativa no início dos anos 1990, mas ainda não havia escutado sua música. Uma coisa eu já sabia, não era black metal tradicional de bandas como Mayhem ou Burzum, embora King Diamond usasse maquiagem, mas também não era um heavy metal convencional, que naquela época soava quase inofensivo. Na mesma oportunidade, como já citei aqui e aqui, eu adquiri os LPs do Black Sabbath, Paranoid, British Steel do Judas Priest, e como já estava encantado pela capa do Mercyful Fate, acabei comprando também o disco Abigail da carreira solo de King Diamond.

Era óbvio que quando chegasse em casa o primeiro disco que ouviria seria o do Mercyful Fate. Assim, liguei a pequena vitrola de minha irmã, retirei o LP e o encarte da capa, coloquei para rodar e sentei-me na cama para “degustar” aquele “manjar metálico”. O que ouvi foi um heavy metal sujo e bem agressivo, mas quando entraram os vocais a obra ficou um meio termo entre o engraçado e o surpreendente. A letra falando de um encontro perigoso (A Dangerous Meeting) numa típica abordagem satanista daqueles tempos (década de 1980), cantada por um vocalista que parecia um “palhaço” infernal, abusando dos falsetes e chegando a extremos próximos do exagero, intercalando timbres de voz naturais e até guturais, por vezes. Entretanto, tudo parecia se encaixar bem, pois eu já ouvira Painkiller do Judas Priest e os álbuns do Helloween, ou seja, era algo já conhecido e levado a um próximo nível.

Conforme as faixas iam sucedendo, em nenhum momento o álbum ficou chato ou irregular. Foram quatro músicas bem construídas e apresentando músicos competentes em todas as funções. Mas, ao virar o LP e posicionar a agulha na faixa inicial, eu me deparei com a abertura assustadora de The Oath, o que jogou as expectativas para o alto. O lado B era até melhor que o lado A, e o final apoteótico com o clássico definitivo da banda, Come To The Sabbath respaldava essa opinião. Cheguei a tocar essa música com a Heavinna em 2003, mas desde a primeira audição eu já imaginava algumas estruturas daquela composição para futuras versões.

O fato é que Don’t Break The Oath é um dos melhores álbuns que tive o prazer de comprar, tanto é que décadas mais tarde eu “eternizei” a capa do LP no meu ombro tatuando aquele demônio em meio ao fogo. Mesmo que já não esteja envolvido naquele ambiente obscuro dos tempos em que tocava black metal, a arte daquele período ainda faz parte do meu imaginário estético em se tratando de metal. O Mercyful Fate, que depois acabei acompanhando bem mais de perto a sua carreira, assim como o trabalho solo de seu emblemático vocalista, impactou muito meu gosto musical. Não há dúvidas de que este disco é um clássico definitivo e a banda nunca mais conseguiu igualar aquele feito, embora tenha chegado perto em alguns momentos.

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